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Ben(e)dito Calixto

Poucos lugares traduzem a cidade de São Paulo, sua diversidade e energia, como a Praça Benedito Calixto. Em outros lugares do mundo talvez parecesse uma contradição que o ponto de encontro de tantos jovens, de tribos consideradas “moderninhas”, seja o local de uma feira de antiguidades. Em São Paulo, não.
É curioso notar como vivemos um momento em que, conforme a tecnologia e a correria do dia a dia nos afastam e tornam as relações menos pessoais, cada vez mais a cidade clama por locais de convivência e interações. Resgatar a velha tradição de se encontrar na praça não é um retorno ao passado, mas um olhar para as nossas necessidades mais humanas.
Aquele também é um local de outra tradição às vezes esquecida em nossa cidade: uma participativa e atuante organização da sociedade civil, a Associação dos Amigos da Praça Benedito Calixto (AAPBC). Por décadas, traduzida na figura da incansável Horieta Novaes, filha da histórica militante política Elisa Branco. Na força de mulheres como ela, a AAPBC organiza a feira de antiguidades, oferece cursos e atividades, e atua constantemente junto à subprefeitura para garantir cuidados e melhorias na região.
Para mim, a Praça Benedito Calixto é um local de uma memória afetiva, um momento que não vivi, mas sem o qual eu nunca poderia ter existido. Foi ali que nasceu o amor dos meus pais.
Meu pai, então um operário da construção civil, vindo da Paraíba para tentar uma vida melhor, e minha mãe, uma jovem baiana que trabalhava como doméstica em uma casa da rua Teodoro Sampaio. Se conheceram em outra praça, a da Sé, mas era na praça Benedito Calixto que, toda semana, no dia de folga dela, eles se encontravam para namorar.
Hoje, a Benedito Calixto não é mais o palco do footing (uma forma de flerte nas décadas de 60 e 70, em que os rapazes andavam em torno da praça num sentido e as moças no sentido contrário, para cruzar olhares), mas um pequeno universo das diversidades que formam a nossa cidade. Entre chorinho e música eletrônica, cozinha mineira e gastronomia saudável, antigas bombonieres e objetos de design, uma coisa persiste ao tempo e continua sendo o principal atrativo de espaços públicos como esse: o encontro entre pessoas.
A distância entre as cidades de origem do meu pai e da minha mãe é de 1.000 km, mas quis o destino que eles se encontrassem a quase 2.500 km de lá, em uma praça de São Paulo.
E o que mais é a cidade de São Paulo se não uma imensa praça, onde povos de todo o mundo resolveram se encontrar?

Adriana Ramalho é assessora jurídica, voluntária em projetos sociais voltados para a emancipação de mulheres em situação de violência doméstica, inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e envelhecimento produtivo. E apaixonada por São Paulo.