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Um prefeito para a Vila Madalena II

Para continuar a crônica do último domingo sob um olhar mais prático, nada melhor do que começar com um número retumbante: segundo o SP Convention & Visitors Bureau, só na cidade de São Paulo o setor de bares e restaurantes gera meio milhão de empregos diretos e indiretos.

Melhor ainda, entre os empregos indiretos muitos são gerados em negócios locais, vizinhos, provocando uma cadeia virtuosa de desenvolvimento. A padaria, o açougue, o supermercado, a feira-livre, a lavanderia, o ponto de taxi, a floricultura e, mais recentemente, até a cervejaria do bairro é prestigiada.

Entre os empregos diretos, o que mais se destaca é o de garçom. E é desnecessário lembrar que eles são amigos da freguesia, um, dois, três ou mais em cada esquina. Conhecem os hábitos, os gostos, as turmas, as famílias dos frequentadores assíduos e funcionam como elos sociais na comunidade.

A ideia original desta crônica foi propor um “prefeito noturno” para essa comunidade, um agente público que, assim como em outras cidades, tivesse a atribuição de olhar atentamente para os problemas e oportunidades do setor.
Alguém específico para ouvir os ruídos, por exemplo. A aplicação da lei do PSIU é um pesadelo para todos. A fiscalização é falha e muitas das vezes pune severamente quem não tem culpa e compromete a continuidade de um estabelecimento. Outras vezes, sabe-se lá por que, não escuta quem de fato comete abusos e transtorna os vizinhos.

Em Barcelona, uma cidade boêmia, eles avançaram instituindo a medição eletrônica. Por um aplicativo que mede decibéis, disponível em todos os smartfones, qualquer cidadão pode aferir os ruídos de um lugar e informar as autoridades.

Da Espanha direto para a minha janela, a coleta especial do lixo do restaurante em frente me tirava da cama de madrugada por conta de um caminhão com motores velhos e desregulados. Telefonei à empresa responsável e com diálogo resolvemos a questão.
Outra inovação que a tecnologia proporcionou à cidades vizinhas de São Paulo é a chamada planta on-line, usada pelo setor da construção civil. A partir dela o empreendedor sabe tudo o que é possível fazer, desburocratizando aprovações. É claro que podemos adaptar para bares e restaurantes.

Parcerias coletivas com a iniciativa privada também poderiam expandir e melhorar promoções que oferecem traslado para clientes residentes na cidade ou hospedados em hotéis. E um debate mais amplo com as empresas de valet seria produtivo no sentido de organizar e otimizar o serviço de manobristas em regiões com grande concentração de bares e restaurantes, como Pinheiros.
Investir na formação de mão-de-obra é fundamental. Quanto custa individualmente formar um profissional dentro da casa? Mais eficiente seria diluir esse custo expandindo os horizontes até uma escola de bar e café municipal, onde profissionais consagrados ensinariam seu ofício em aulas e palestras e as empresas fornecedoras colaborariam com insumos e equipamentos, no mesmo modelo que já acontece para restaurante na Câmara dos Vereadores. Sendo aberta ao público, além de capital humano, formaríamos público.

Logo ali na esquina, no Largo da Batata, a gente toma o Metrô na estação Faria Lima e em poucos minutos alcança a rua Sete de Abril, onde fica a Biblioteca Mario de Andrade, que tem a estrutura perfeita para abrigar a escola. Bastaria a Prefeitura ser parceira. Postei no meu perfil no Facebook um vídeo mostrando o lugar e a ideia e convido a todos para uma visita.

Ter bares e restaurantes perto de casa é um dos privilégios da vida urbana. Toda cidade deve festeja-los e, na medida do possível, colaborar para que se desenvolvam. Vale lembrar que, além de divertido, será sempre mais barato comer e beber fora. Duvida? Então procure manter em casa um estoque variado de comida e bebida, com garçom, cozinheiro e barman para atende-lo. Viu? É o poder coletivo. É nosso. Então vamos cuidar bem deles.

Leo Coutinho, escritor e jornalista, nasceu em São Paulo. É membro do Conselho Participativo Municipal da Subprefeitura de Pinheiros.